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Em breve estarei postando mais links para consulta, mas não esqueça que a biblioteca do CEEP está cheia de livros para a continuidade dos estudos. Bom trabalho.
terça-feira, 26 de março de 2013
A filosofia no mundo
Mas
como se põe o mundo em relação com a filosofia? Há cátedras de filosofia nas universidades.
Atualmente, representam uma posição embaraçosa. Por força da tradição, a
filosofia é polidamente respeitada, mas, no fundo, objeto de desprezo. A
opinião corrente é a de que a filosofia nada tem a dizer e carece de qualquer
utilidade prática. É nomeada em público, mas – existirá realmente? Sua
existência se prova, quando menos, pelas medidas de defesa a que dá lugar.
A oposição se traduz em fórmulas
como: a filosofia é demasiado complexa; não a compreendo; está além do meu
alcance; não tenho vocação para ela; e, portanto, não me diz respeito. Ora,
isso equivale a dizer: é inútil o interesse pelas questões fundamentais da
vida; cabe abster-se de pensar no plano geral para mergulhar, através de
trabalho conscencioso, num capítulo qualquer de atividade prática ou
intelectual; quanto ao resto, bastará ter “opiniões” e contentar-se com elas.
A polêmica torna-se escarniçada. Um
instinto vital, ignorado de si mesmo, odeia a filosofia. Ela é perigosa. Se eu
a compreendesse, teria de alterar minha vida. Adquiriria outro estado de
espírito, veria as coisas a uma claridade insólita, teria de rever meus juízos.
Melhor é não pensar filosoficamente.
E surgem os detratores, que desejam
substituir a obsoleta filosofia por algo de novo e totalmente diverso. Ela é
desprezada como produto final e mendaz
de uma teologia falida. A insensatez das proposições dos filósofos é ironizada.
E a filosofia vê-se denunciada como instrumento servil de poderes políticos e
outros.
Muitos políticos vêem facilitado seu
nefasto trabalho pela ausência da filosofia. Massas e funcionários são mais
fáceis de manipular quando não pensam, mas tão-somente usam de um inteligência
de rebanho. É preciso impedir que os homens se tornem sensatos. Mais vale,
portanto, que a filosofia seja vista como algo entediante. Oxalá desaparecessem
as cátedras de filosofia. Quanto mais vaidades se ensinem, menos estarão os
homens arriscados a se deixar toar pela luz da filosofia.
Assim, a filosofia se vê rodeada de
inimigos, a maioria dos quais não tem consciência dessa condição. A
autocomplacência burguesa, os convencionalismos, o hábito de considerar o
bem-estar material como razão suficiente de vida, o hábito de só apreciar a
ciência em função de sua utilidade técnica, o ilimitado desejo de poder, a
bonomia dos políticos, o fanatismo das ideologias, a aspiração a um nome
literário – tudo isto proclama a antifilosofia. E os homens não o percebem porque
não se dão conta do que estão fazendo. E permanecem inconscientes de que a
antifilosofia é uma filosofia, embora pervertida, que, se aprofundada,
engendraria sua própria aniquilação.
O problema crucial é o seguinte: a
filosofia aspira à verdade total, que o mundo não quer. A filosofia é,
portanto, perturbadora da paz.
E a verdade o que será? A filosofia
busca a verdade nas múltiplas significações do ser-verdadeiro segundo os modos
do abrangente. Busca, mas não possui o significado e substância da verdade
única. Para nós, a verdade não é estática e definitiva, mas movimento
incessante, que penetra no infinito.
No mundo, a verdade está em conflito
perpétuo. A filosofia leva esse conflito ao extremo, porém o despe de
violência. Em suas relações com tudo quanto existe, o filósofo vê a verdade
revelar-se a seus olhos, graças ao intercâmbio com outros pensadores e ao
processo que o torna transparente a si mesmo.
Quem se dedica à filosofia põe-se à
procura do homem, escuta o que ele diz, observa o que ele faz e se interessa
por sua palavra e ação, desejoso de partilhar, com seus concidadãos, do destino
comum da humanidade.
Eis
porque a filosofia não se transforma em credo. Está em contínua pugna consigo
mesma.
(Karl
Jaspers, Introdução ao pensamento
filosófico, p. 138.)
In. Filosofando - Introdução À Filosofia. Mª Lúcia de Arruda Aranha e Mª Helena Pires Martins.
2ª edição. Editora Moderna. São Paulo, 1993.
segunda-feira, 25 de março de 2013
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